Mentoria para Psicólogos: por que os cursos superiores não ensinam sobre carreira?

Mentoria para Psicólogos: Porque os cursos superiores não ensinam sobre carreira?

Márcio Souza

 

Há um incômodo que me acompanha por quase todos os 20 anos que atuo como professor universitário e como orientador de carreiras. O incômodo é como os cursos superiores, mesmo os de excelência, falham em ajudar os seus profissionais recém-formados a compreender como planejar e desenvolver suas carreiras. 

 

O resultado disso é que muitos profissionais que sonharam tornar-se psicólogos, que pagaram a duras penas as mensalidades, que abriram mão de tempo com família e amigos para estudar, desistem de atuar em sua área de formação devido às dificuldades em conseguir sua inserção profissional. O que me deixa mais triste é saber que isso poderia ser evitado se estes profissionais tivessem a oportunidade de pensar em suas carreiras desde o período da faculdade. 

 

Lembro de abordar este assunto em algumas das minhas aulas e, frequentemente, ouvia como resposta. “Claro que estamos pensando em nossas carreiras, estamos aqui cansados à noite só para assistir a sua aula!

 

Esta resposta é fruto de uma confusão que as próprias universidades ajudam a difundir: a falta de distinção entre profissão e carreira. A palavra profissão tem origem no latim “professio,onis”, neste contexto relacionada a professar, ensinar. Portanto, a palavra profissão está relacionada a um lugar de conhecimento ocupado por aquele que se dedicou a aprender um ofício. Já a palavra carreira tem sua origem relacionada a rota, estrada, um caminho para se chegar em algum lugar. Percebe a diferença? A grosso modo, profissão é o conjunto de conhecimentos que te habilita a exercer um ofício e carreira é o caminho que se percorre no desenvolvimento profissional, quais escolhas foram feitas, que atitudes foram tomadas para que um profissional ocupe seu lugar no mercado.

 

É muito interessante observar que nas propagandas das universidades usam-se slogans como “Garanta seu sucesso profissional”, “Conquiste seu lugar no mercado” ou “Esteja entre os primeiros”. Em todos os casos a promessa é de sucesso na carreira, mas e os currículos de tais universidades? Em geral estão focados apenas na profissionalização de seus estudantes. Vamos a um exemplo.

 

Desde 2002 atuo como professor de cursos de psicologia em diferentes instituições de ensino. Neste período, além de professor, atuei como coordenador de curso e participei da reestruturação curricular de dois dos cursos onde atuei. Em todas estas instituições, havia o esforço de adequar os currículos aos parâmetros determinados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Psicologia. Esta é uma obrigação legal, da qual depende a autorização de funcionamento de cada cMentoria para Psicólogos: Porque os cursos superiores não ensinam sobre carreira?urso. 

 

Ao analisar as Diretrizes curriculares, percebe-se que a ênfase está na formação profissional, ou seja, quais são os conhecimentos e habilidades esperados do aluno que se forma no curso de psicologia. Como consequência disso, mesmo em cursos de excelência, os profissionais formados dominam os conhecimentos esperados mas não sabem o que fazer para atingir o desejado sucesso profissional.

 

Cresci ouvindo de professores e colegas que “basta fazer um bom trabalho que o reconhecimento vem sozinho”. Sou obrigado a discordar veementemente desta afirmação. Conheço inúmeros profissionais de todas as áreas que exercem suas profissões com maestria mas não possuem o reconhecimento desejado. Seja o reconhecimento social dado por seus pares ou o reconhecimento financeiro.   

 

Isso acontece, pois ao “fazer bem seu trabalho” o foco do indivíduo está voltado exclusivamente para sua atividade profissional. Certamente este é um requisito para atingir o sucesso e, principalmente, para mantê-lo a longo prazo. Mas não é o suficiente, pois com a alta concorrência em todos os campos de atuação profissional, é imperativo que cada profissional tome para si a tarefa de planejar e executar a rota que deseja seguir em sua carreira. 

 

Escuto com frequência recém formados que se queixam das instituições onde estudaram por acreditarem que tiveram suas carreiras negligenciadas. Em parte compreendo, pois acredito que se as instituições de ensino não se preocupassem apenas em garantir as exigências das Diretrizes Curriculares, haveria espaço para alertar aos estudantes sobre a necessidade de fazer um planejamento de carreira e, até mesmo, prever em seu currículo uma mentoria fornecida pela própria instituição. Este modelo existe em outros países, mas, infelizmente, por aqui, quando esta mentoria acontece, é de maneira informal como discuti em meu artigo anterior.

 

Como disse, compreendo em parte, pois, por outro lado, as discussões mais atuais a respeito de carreira tem colocado na mão do profissional a responsabilidade por definir os caminhos que deseja trilhar em sua história profissional. Sem dúvida, a relação da parcela de responsabilidade das instituições de ensino e a do profissional em formação  precisa ser discutida, mas tenho algumas considerações a fazer.

 

Para quem se formou entre as décadas de 60 e 80, o emprego era praticamente uma garantia e era esperado que a pessoa trabalhasse a vida inteira e se aposentasse na mesma empresa. Este ainda é o sonho de muita gente e se este contexto nos atrai pelas garantias, ele peca na possibilidade de mobilidade profissional. Uma pessoa que não se adaptasse ou que buscasse uma recolocação poderia não ser bem vista pelo mercado e até se prejudicar profissionalmente.

 

Para quem se forma hoje, o cenário é bem diferente. Estudos apontam que é esperado que quem inicia agora sua trajetória profissional passe, em média, por 5 grandes transações de carreira. As garantias trabalhistas de hoje não chegam nem perto daquelas dos profissionais citados no parágrafo anterior. Contudo, quando há perdas de garantias, há também um ganho em liberdade e mobilidade profissional. 

 

Portanto, o protagonismo de carreira precisa ser assumido por cada profissional. Cabe a nós assumirmos o controle sobre nossas carreiras, definirmos o caminho que desejamos trilhar profissionalmente e traçar estratégias para atingir a tão desejada realização profissional. Como resultado desta mobilidade e deste protagonismo tenho testemunhado profissionais que encontram caminhos para viver da profissão que escolheram e plenamente identificados com seus trabalhos e suas rotinas

 

Mas como fazer isso se as universidades não preparam os alunos para este planejamento? Felizmente existem diversos recursos para quem deseja aprender a empreender e a ter controle sobre sua carreira. Existe uma diversidade de cursos sobre o tema, mas neste caso, além de estudar uma área que não é a sua especialidade, o profissional tem que saber selecionar os conhecimentos que serão úteis para seu projeto profissional. Este caminho pode funcionar, mas já vi muitos profissionais batendo cabeça tentando descobrir como aplicar o aprendizado na sua carreira. 

 

Para quem deseja ir mais “direto ao ponto”, existem os processos de coaching de carreiras ou de mentoria. Em ambos processos, o objetivo é o de ajudar o jovem profissional a estabelecer um nicho de atuação em sua profissão que esteja alinhado com seus valores pessoais e ambições para o futuro. A partir deste ponto, em conjunto com o cliente, são definidas estratégias para possibilitar a realização deste projeto, são definidos aprendizados e experiências que precisam ser construídos ao longo do caminho profissional para que a realização seja atingida.

 

A diferença entre o processo de coaching de carreiras e a mentoria está na experiência profissional do coach ou do mentor.  O coach aprende a respeito da área de atuação do coachee a fim de ajudá-lo assim, consegue ajudar profissionais das mais diversas áreas de atuação. Já o mentor conta com sua própria experiência profissional para ajudar os seus mentorados a trilhar suas trajetórias. O trabalho do mentor é, portanto, mais específico e voltado para uma profissão ou área de atuação que seja de seu domínio. 

 

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